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sábado, 30 de julho de 2011

Barco Furado

- Precisamos conversar
- Sobre o que?
- Sobre ele
- O que tem ele? Ele perguntou de mim?
- Não
- O que aconteceu então
- Estou apaixonada por ele
- Mas justo por ele??
- A culpa foi sua
- Como?
- Você disse que recomendava eu ficar com ele
- E desde quando você segue meus conselhos?
- Desde sempre
- Mas porque??
- Você é minha melhor amiga
- Nem eu sigo meus conselhos, você deveria fazer o mesmo.
- Não fiz.
- ...
- E agora?
- E agora o que?
- Como você está se sentindo?
- Por você ter ficado com ele? Ou por você estar apaixonada por ele?
- Pelo dois
- Sinto que você deveria se importar menos com o que o que os outros pensam e pensar mais em você.
- Não posso fazer isso.
- Só por que eu disse pra você não ouvir mais meus conselhos?
- Não... Ele estava distante.
- Quando?
- Quando saímos a ultima vez.
- Ele devia estar cheio de coisas na cabeça.
- Tava com uma só.
- Sexo?
- Quem dera. Ele terminou comigo.
- Vocês começaram alguma coisa?
- Não existe 'nós'. Existe eu apaixonada por ele. E ele me vendo como amiga.
- Mentira.
- Claro que é mentira. Preferia que ele falasse que gosta de loira. Mas ele mentiu.
- Falou com ele sobre isso?
- Não.
- Não falou mais com ele?
- Falei. Falei todos os dias. Saí com ele mais duas vezes. Nós somos amigos
- Mas voce disse que está apaixonada por ele
- Mas ele disse que não quer nada comigo. Não posso fazer ele gostar de mim
- Voce tem que se afastar dele.
- Não consigo
- Por que?
- Por que estou apaixonada por ele.
- Voce e eu: cerveja, sábado
- Não posso.
- Por que?
- Vou almoçar na casa dos pais dele.
- Isso vai dar merda.
- Já deu.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

No Canto do Quarto

Deitada na cama com o lençol sobre seu ventre, pegou um folheto publicitário do hotel e o dobrou para utilizar como cinzeiro.

- Queria lhe pintar...

Seus olhos de um verde rasgado a perfuravam com urgência

- Não sou tela para tal - rouquidão e  descontração assinavam sua voz

- Quero que sejas paisagem e não tela.  - era só a primeira noite que passavam juntos, há quatro horas havia sido o primeiro beijo - Quero misturar os tons de tua pele, tê-los mais do que na memória. 

- Mas me tens aqui

Fugia como uma garota, e era como se sentia quando o abraço quente e o olhar fumegante lhe tocavam. Seu toque era perfeito para sua pele.

- Não vou tê-la para sempre - ele a acariciava delicadamente com a ponta dos dedos. Sua pele era perfeita para seu toque - Nunca senti algo como a sua pele... Não consigo deixar de tocá-la. Tão sedosa, tão firme, tão jovem...

- Não sou tão jovem

- Ruborizas como adolescente

- Me achas uma garotinha? - havia doçura em sua voz. Estava quase ofendida.

- Desnuda em meus braços, despida de toda armadura que veste no mundo. Só isolados neste quarto consigo ver o que essa poderosa mulher esconde

- Nada escondo!
- Escondes uma menina. -  quase se queimara com o cigarro que repousava sobre suas coxas - Sempre me senti um garoto desconsertado ao teu lado, intimidado por tua beleza e articulação. Hoje me sinto um homem e quero lhe ensinar a ser cuidada ao contrário de cuidar todo o tempo.

- Estás precipitando as coisas....

- Há cinco anos que anseio por este momento; nunca havia dúvida de quem, mas o quando nunca nos foi favorável. Quero eternizá-lo em tinta óleo.

Sentia seu corpo inteiro arder enquanto ele lhe olhava sem pudor, e mensurava cada polegada descoberta de seu corpo.

- Não tenho feições próprias para tal

- Não quero registrar apenas tuas formas. Quero traduzir em cores teu perfume de jasmim, tua pele de seda e o sorriso recatado que escondes por detrás do escudo...

- Discretizas demais os momentos...